O que é exatamente
amor liberto, ou “poliamor”?
Bem, não há uma única resposta para essa pergunta, ao menos no
nível da exatidão. Existem muitas “leituras” diferentes deste tema.
Basicamente poliamor significa muitos amores, ou amor múltiplo.
Amor liberto é uma redundância, pois amor só é liberto.
É claro que “amor” é só uma palavra e 99% das vezes
utilizada de forma “solta”.
Nesse caso vou utilizar amor no sentido espiritual
O amor pode ser explicado de forma longa, e merece! Um dos livros
que escrevi trata apenas do amor. Mas vamos ser práticos e objetivos?
Amor espiritualmente, acima de tudo significa: conhecer
profundamente. Ter intimidade verdadeira. E esse conhecer profundo só é possível
através de uma conexão, ligação. Os grandes ensinamentos espirituais de muitas
linhas religiosas apontam que, para amar o outro, é necessário primeiro amar a si.
Já outro ensinamento diz que para se conhecer verdadeiramente, rompendo a ilusão
do falso eu (mundo externo), é necessária intimidade com si mesmo, a verdade da
essência.
Nesse caso, embora com palavras diferentes, estão falando da
mesma coisa: amor e consciência como sendo uma conexão profunda com si mesmo,
com a essência.
De forma muito “the flash” estou dizendo que amor é conexão
verdadeira.
Uso a palavra “verdadeira”, porque não se trata de conexão
na forma de “apego”. Apego não exige nada de esforço, não requer conhecer o
outro, nem a si próprio. Apego é uma ilusão de que “preciso disto para ser
completo”. Apego é acreditar que algo no mundo lá fora “me completa” e “me faz
feliz”. É o oposto do amor espiritual, onde alcanço a completude de mim mesmo,
sou pleno, e então ao me reconhecer sou capaz de reconhecer e desvendar o
outro.
Conexão através do amor é: conheço a mim mesmo e sou
completo em mim, portanto reconheço você como parte de mim, uma extensão de
mim.
Poliamor nesse caso é conectar-se profunda e livremente com
muitos seres. É buscar celebrar a vida e a própria plenitude em conjunto.
Obviamente não somos todos plenos! Caso contrário o mundo lá fora seria harmônico,
certo? Ser poliamor é reconhecer o “caminho” e a “jornada” de plenitude, que
passa por se “soltar” dos apegos, medos na forma de ciúmes. É desistir de
tentar “controlar” tudo baseado no medo e trocar pela confiança, pelo salto de
fé.
Nesse ponto, poliamor é o fim de relacionamentos por medo.
Deixar para trás a compulsão por segurança para acalmar o medo da perda.
Poliamor é o reconhecimento que vínculos não devem ser excludentes. Na verdade
é incoerência pura a forma antiga de relacionamento! Como deixaremos para trás uma
sociedade excludente se buscamos relações exclusivas?
Dessa forma, quem busca o poliamor, é porque já percebeu de
alguma forma que deseja ser livre, se conhecer de verdade e ter relações mais autênticas
com os outros. Buscando deixar de lado o ciúme e o anseio por controlar a relação.
Substituindo pelo unir-se por afinidade, admiração e partilha.
Mas veja só “poliamor” é uma palavra né? Qualquer um pode
sair por ai utilizando e dizer que é um expert. E de certa forma ele será, pois
viverá o seu jeito de poliamor. O engraçado é que a maior parte das pessoas que
buscam o poliamor, mesmo que no inicio seja por motivos mais mundanos, acaba
crescendo em maturidade.
Por uma razão exotérica, explicado pelo tantra. A
sexualidade gera conexão, mesmo que mínima. Cria maior exposição,
vulnerabilidade, que gera a cumplicidade. Mas isso só ocorre se há o
reconhecimento do poliamor abertamente, ou seja, sem dissimulação. Quem é “mentiroso”
e faz “por baixo do pano”, não colhe este fruto, pois está psicologicamente
fechado, na defensiva, motivado pela culpa e repressão.
Então mesmo que para algumas pessoas poliamor seja sinônimo de
polisexo, se for de forma aberta e reconhecida, sem dissimulação, tende a deixar
de ser apenas polisexo! O que isso quer dizer? Que sexo é uma coisa deliciosa e
fantástica, que gera conexão e intimidade, e quando é feito de forma aberta,
com cada vez menos recalque, se torna um canal para intimidade verdadeira!
Seria legal que você estude o tema se quiser! Há muitos
trabalhos fantásticos sobre o papel da sexualidade na transformação espiritual,
ou na psique humana.
Superar o recalque do sexo é uma das coisas mais profundas e
libertadoras que um ser humano pode realizar, e requer uma gigantesca coragem,
acreditem! Na base do recalque está o pavor à vulnerabilidade do desfazimento
da própria identidade, a “pequena morte” como dizem. Então veja só, a
sexualidade livre também liberta e aproxima do poliamor verdadeiro: conexão
profunda consigo e com o outro, plenitude e completude, a partilha e
celebração.
O curioso é que a maior parte das relações monogâmicas não
tem intimidada real alguma! E muitas vezes uma das partes “rompe” a relação
quando as coisas “ficam muito íntimas”! É o tal do pavor da intimidade, de ser
descoberto “insuficiente”. Claro que poucas pessoas percebem isso, mas quem ler
isso e já tiver “testemunhado” essa parte de sua “criança interior”, sabe do
que estou falando!
Em relações poliamorosas há mais intimidade e respeito
mútuo. Há muito lealdade e cumplicidade. Partilhando não apenas experiências mas
também amores. No poliamor, costuma-se ter a convicção e confiança maior de que
quem está “junto” é porque realmente deseja estar lá. Ou seja, não há medo
constante, mas sim prazer e gratidão, certeza da apreciação mútua. Nenhuma das
partes é um “carente” com medo da solidão e amargura! Que esta ali pelo medo de
ficar sozinho, por comodidade.
Os tipos de relações poliamorosas costumam ser descritas por
símbolos geométricos, triangulo, circulo, T, V, W etc. A diferença por exemplo,
é que uma relação em T, há uma relação forte entre duas partes e um terceiro
menos conectado, já no V, uma das partes tem duas relações. No triangulo, os
três se relacionam mutuamente e de igual intensidade. No W, há várias ligações
em sucessão, não relacionadas etc. Não há limite ou forma fixa.
Normalmente relações se tornam grande círculos, com “constelações”.
Ou seja, um núcleo de parceiros sólidos e outros ao redor que se aproximam ou
distanciam de forma fluídica.
Então vamos lá:
Poliamor ou amor liberto é conexão profunda e livre com várias pessoas ao mesmo
tempo, sem limites ou formas estabelecidas. É algo fluido e orgânico. Não se
propõe a ser mais uma coisa racional e “segura” para nossa mente combater os
medos.
Poliamor é prazer intenso e liberdade de fato. É
autoconhecimento na superação das inseguranças, em especial no começo da
jornada.
Satya Dharma
Mestre Liberto
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